quarta-feira, setembro 10, 2008

Velocista venceu com "prótese" na alma

Perseverança e força de vontade, incutidas na sua infância, explicam determinação de Oscar Pistorius
Jailson Kalludo,
de Pequim

A história de Oscar Pistorius é de emocionar qualquer pessoa. Principalmente a pessoas como eu, portadoras de necessidades especiais e que têm uma razão de viver, e um motivo para lutar com unhas e dentes para serem respeitadas e não apenas mais um mero dado nas estatísticas do IBGE. Este é o grande referencial dos portadores de necessidades especiais. E acredito também ser o que Oscar Pistorius quis mostrar para a comunidade Olímpica e Paraolímpica.

Quando eu li sobre o atleta Pistorius e a sua luta em querer participar dos grandes eventos esportivos – como os Jogos Olímpicos e os Jogos Paraolímpicos de Beijing – veio-me uma lembrança de quatro anos atrás, quando já estudante de comunicação participei ativamente do projeto de cobertura dos Jogos de Atenas, na Universidade Católica de Brasília, e não consegui o objetivo de ir com meus companheiros.

Mesmo assim, não perdi as esperanças de realizar o sonho de cobrir as Paraolimpíadas. Como diz a canção, “o sonho não envelhece” e nem envelhecerá jamais. Continuei a lutar e a almejar participar da cobertura destas Paraolimpíadas de Beijing.

Autodefesa – Em sua infância, Pistorius teve que amputar as pernas abaixo do joelho, aos onze meses de vida e, graças ao bom Deus, teve em seu pai, Heinke, o apoio que o fez caminhar através da ajuda de próteses, para que no futuro não tivesse problemas. Esse episódio faz lembrar minha mãe, que pelejava comigo para que eu estudasse e que no futuro não ficasse dependendo de ninguém; não que a atitude da minha mãe fosse egoísta, mas de autodefesa perante as circunstâncias da vida.

Oscar Pistorius, o polêmico atleta sem pernas, conhecido mundialmente por causa de suas próteses de carbono, que lhe valeram vários apelidos – “homem bala”, “atleta biônico”, ou Blade Runner – sai de Pequim elevado em sua condição de atleta comprometido com o esporte Olímpico e Paraolímpico.

Tecnologia – Voltando a comentar sobre Pistorius, não podemos deixar de falar sobre as injustiças que lhe fizeram. Principalmente quando a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) chegou a proibir sua participação não apenas em Beijing, mas em qualquer evento de sua categoria (no esporte convencional e no esporte paraolímpico), com base em estudo que mostrava supostamente que a prótese de carbono lhe daria uma vantagem sobre os demais.

Pistorius acatou o estudo, mas também solicitou à IAAF que avaliasse, por exemplo, a perda de energia ou geração de força pelas articulações do joelho e dos quadris, assim como impacto da amputação sobre o ponto de contato entre a prótese e a perna.

Segundo outros especialistas, o talentoso atleta não faz a diferença nas competições por causa de sua prótese de carbono. Foi com base em um grande esforço e seguindo um treinamento diário que o velocista se tornou um atleta inédito, conseguindo em apenas três anos o que nenhum atleta conseguira em anos de trabalho.

Eu, pessoalmente, não atribuo o sucesso à prótese de carbono, prefiro destacar a perseverança e a força de vontade que lhe foram incutidas desde a sua infância por seu pai.

Mas se a prótese ajuda Oscar Pistorius a melhorar o seu índice, e daí? Durante os Jogos Olímpicos, quantos atletas usaram equipamentos produzidos por empresas especializadas em material esportivo, como a Speedo, com seu super maiô, LZR Racer, que comprime o corpo e repele a água diminuindo o atrito na piscina?

E dentro desse contexto a empresa que mais criou mecanismo para melhorar performance de atletas em modalidades diferenciadas foi a Nike, que também desenvolveu seu “brinquedinho”, o JPPEA – uma bota para equitação, com o zíper assimétrico, que ajuda na hora de calçar. A altura da espora pode ser ajustada de acordo com o cavalo.

Os dirigentes da Federação Internacional de Atletismo não viram que o esporte Olímpico e Paraolímpico está passando para um novo. Não podemos mais fechar os olhos para a tecnologia, porque não vivemos mais na Idade Média, e sim em um mundo competitivo, onde o talento, só, não ganha medalhas. Não precisamos ir longe, o Brasil é um grande celeiro de atletas talentosos, mas nem todos conseguem evoluir por falta de uma política esportiva, que gerencie uma tecnologia de ponta.

Concluindo este artigo, observo que temos que debater sobre as novas tecnologias que hoje, necessárias ou não, estão presente no esporte no âmbito Olímpico e Paraolímpico. E afirmo que a Olimpíada não será mais a mesma, depois do aparecimento de Oscar Pistorius, porque ele mostrou que o esporte continua a ser feito com a alma – e este é o verdadeiro espírito Olímpico.

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