sexta-feira, setembro 12, 2008

Em busca de Sophia, de Brasília a Beijing

Jailson Kalludo,
de Pequim


O projeto Beijing trilhou vários caminhos, desde a organização da logística, o processo de seleção – com a desistência de alunos que não conseguiram entender a filosofia do trabalho, que tem a o propósito de fazer uma cobertura multimídia dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paraolímpicos – à lapidação de quem ficou.
O papel deste segundo grupo de estudantes do Projeto UCB Beijing, do qual eu faço parte, é de fazer a cobertura multimídia acontecer, uma empreitada nada fácil, por vários motivos que foram abordados no nosso treinamento e que na prática sempre tomam outro norte. O idioma, a adaptação ao clima e à alimentação, e o convívio em grupo são aspectos às vezes problemáticos com que se têm que lidar com muita habilidade, compreensão e sabedoria neste momento.
Com o advento dos Jogos Paraolímpicos, a população de Beijing está se adaptando a uma nova realidade, que é a da superação do portador de necessidade especial. Os hotéis, o comércio e o governo estão fazendo o máximo para acolher estes atletas e cidadãos em seu país.
O povo chinês valoriza a sua cultura, tem um grande respeito pelos mais velhos. O professor aqui na China é a terceira autoridade dentro do conceito de respeito e posição social. Eu sinto até inveja desse tipo de conduta, porque no meu país - onde alguns filhos espacam, maltratam e matam até os próprios pais - os professores não tem esse tratamento.

Em Beijing encontramos um povo receptivo, e, ao mesmo tempo, comprometido com o trabalho e com o desenvolvimento econômico. É claro o visível contraste social, mas não sou eu, brasileiro, que vai jogar a primeira pedra. O meu país tem problemas similares e não consegue resolvê-los – e, por isso, como os velhos sábios urbanos dizem: cada macaco no seu galho.

Como Pitágoras ensinava, Sophia significa sabedoria. É isso que a nação chinesa, com sua hospitalidade e o seu carisma, quer mostrar a qualquer turista. Pessoas de semblante sério, mas prestativas, na China de Sophia as pessoas acessam internet, escutam Michael Jackson e dançam Billy Jean,sem se preocupar com a barreira do idioma ou ideologia política, o que importa é dar um sentido à vida humana, respeitar o direito de ir e vir. As cores de nossa bandeira não importam nesse contexto de celebração, agregação, superação.

Os Jogos Paraolímpicos deixam uma mensagem filosófica. Não são meras palavras publicadas em livros, mas uma prova vivencial dos fatos, que em 11 dias de competição mostram para os cinco continentes que seu filho portador de necessidade especial não quer e nem precisa de esmola e sim de oportunidade para ser uma pessoa independente e produtiva.

Em tempos passados, o povo antigo se confraternizava e se encontrava para manifestar a sua Sophia. Um dia deixei minha terra, e enfrentei o dragão do imperador só para beijar Sophia na ponta de uma esquina de uma viela sem ponta, sem importar se Sophia são imagens produzidas por sombras de dentro de minha caverna imaginária, ou se era a menina que me serviu o banquete chinês e limpou o suor do meu rosto com as palmas de sua mãos. E depois me chamou de professor, como fosse minha discípula ocidental.

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