quinta-feira, setembro 18, 2008

Resultados estimulam o esporte paraolímpico

Camilla Sanches,
de Pequim
A 13ª edição dos Jogos Paraolímpicos chegou ao fim nesta quarta-feira (17) e, de acordo, com o chefe da delegação brasileira, Alberto Martins, as expectativas foram atendidas, algumas até superadas. “Tínhamos consciência de que ia ser uma paraolimpíada extremamente difícil. Um nível de performances altíssimo. A natação e o atletismo cumpriram seu papel como favoritos aos pódios e a participação do Brasil, de maneira geral, extrapolou o esperado”, disse.
Foto: Geyzon Lenin
O atletismo foi responsável por 15 medalhas, das quais quatro ouros. A natação confirmou o favoritismo e trouxe oito douradas para o país, ao todo foram 19, oito a mais que em Atenas. Entre as mais marcantes, destacam-se as duas dobradinhas brasileiras com ouro e prata no pódio garantidos pela dupla André Brasil e Phelipe Rodrigues.

“Já esperávamos pelo resultado. A hipótese dos bronzes com o Phelipe também foi considerada, mas graças a Deus vieram as duas pratas”, comemorou o coordenador técnico da natação, Gustavo Abrantes. Segundo ele, essas conquistas vêm premiar o trabalho feito desde 2004, pós Atenas. Abrantes ressaltou ainda a importância dos novos talentos que surgiram para complementar o quadro de atletas. “O André e o Phelipe não estavam em Atenas e estão aqui com boas performances, assim como Daniel Dias”.
Foto: Geyzon Lenin
Phelipe já é apontado como substituto de André Brasil. Na disputa entre os dois quem ganha é o país com dupla possibilidade de medalha em única prova. “Essa dobradinha representa uma evolução já que até Atenas nós tínhamos pouca renovação. Neste ciclo tivemos uma renovação com qualidade”, concluiu. Enquanto em 2004 Clodoaldo foi o único responsável por medalhas de ouro, nesta edição elas foram divididas entre Dias e Brasil, cada um com quatro na bagagem.
Para Abrantes, estas vitórias criam novos heróis, novos ídolos. Além de estimular o surgimento de futuros atletas.

Andrew Parsons, secretário geral do comitê Paraolímpico brasileiro (CPB), demonstrou satisfação com o desempenho dos paraatletas. Segundo ele, a meta era ficar em 12º lugar no quadro de medalhas. O Brasil extrapolou qualquer previsão e terminou em 9º. Além das inéditas medalhas no hipismo, na bocha e no tênis de mesa, Parsons elegeu como o momento mais emocionante o terceiro lugar da nadadora Verônica Almeida nos 50 metros borboleta S7. “O bronze dela foi comemorado por toda a delegação, em todas as modalidades. Ela se superou”. Verônica é portadora da síndrome de Ehlos Danlos, uma doença progressiva e degenerativa.

Acompanhando o movimento paraolímpico desde 1997, o chefe da delegação brasileira percebeu uma evolução positiva no paraesporte. “É de se esperar que cada vez mais o nível técnico da paraolimpíada cresça”, afirma. Para ele o importante, agora, é dar continuidade ao trabalho que vem sendo realizado. “O Brasil tem acompanhado esse nível de crescimento e já pensamos no próximo ciclo paraolímpico que culmina em Londres”, finalizou Martins.

quarta-feira, setembro 17, 2008

Jogos paraolímpicos promovem a igualdade, integração e a transcendência

Festa em grande estilo marca o encerramento dos Jogos Paraolímpicos de Beijing.



Foto: Lucas Lieggio


* Por Paulo Trindade

de Beijing

Noite de festa, estádio lotado, 90 mil pessoas de mais de 140 países representados, todos aguardando a cerimônia de encerramento dos Jogos Paraolímpicos de Beijing. Era a hora e a vez dos portadores de necessidades especiais mostrarem que em matéria de cerimônia, estão com tudo também. Os 4000 atletas que participaram desta edição desfilaram para o mundo depois de confirmar sua agilidade, força, destreza, velocidade, capacidade de superação nos 10 dias de competições realizados na capital chinesa.

Um momento que entra para a história dos atos solenes dos eventos de grande porte. Foi um Show de organização, de sensibilidade e simpatia, para mostrar elementos da tradicional e moderna cultura chinesa.

O espírito dos jogos foi mostrado enfatizando o entusiasmo do povo chinês, das famílias em receber os visitantes como amigos depois das intensas disputas nas competições. Zhang Yimou foi o responsável pela concepção das cerimônias de abertura e enceramento dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Beijing. Yamou tem sido o grande personagem das mega cerimônias dos eventos esportivos e culturais. É um especialista na teatralização das aberturas e encerramento de outras edições de eventos esportivos.

Do ponto de vista de coreografias com centenas de bailarinos, dos arranjos com figurinos esmerados, da trilha sonora personalizada para o tema “One World, One Dream” – Um mundo, Um sonho”- As coreografias interpretadas na precisão de seus bailarinos, reforçada pelos lances de tecnologia e malabarismo em suspensão, que foram um destaque desta edição em Beijing, que inclusive, tornou uma noite especialmente cênica, com proporções grandiosas que brindaram o expectador com um misto de folclore e sabedoria na arte de interpretar.

Dois momentos ficam para a história nesta cerimônia dos Jogos de Beijing. O discurso do presidente da Republica Popular da China, Hu Jintao que destacou entre outras coisas, que estes Jogos deixam três conceitos que aqui foram vividos. São eles: “transcendência, integração e igualdade”. Outra manifestação do Chefe de estado, valorizou a perseverança e a performance dos para atletas, destacando que os Jogos paraolímpicos foram um chamamento para a acessibilidade e o interesse público. Os jogos promovem no sentido de uma integração que pode estar na inspiração para a inserção de mais de 300 mil pessoas portadoras de deficiência somente em Beijing.

Para Philip Craven, Presidente do Comitê Paraolímpico Internacional – IPC – os Jogos de Beijing significaram mais uma manifestação vencedora da família paraolímpica. Seus agradecimentos públicos às cidades, ao povo e ao país, promoveram grande comoção aos presentes que lotaram o estádio. “obrigado Hong Kong, obrigado Quing Dao, obrigado Beijing e obrigado China”.

Daí, seguiu - se o protocolo de troca das bandeiras da China, representada pela cidade cede dos Jogos que foi Beijing, para a de Londres, onde serão realizados os próximos Jogos Paraolímpicos, que terá como cidade sede, Handover, que segundo Sebastian Coe, presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpico de Londres – LOCOG – será uma celebração de diversidades, para receber a família paraolímpica, que poderá mostrar toda sua força nos esportes, na cultura, nas artes, na superação social, física e das barreiras culturais.

Destaque especial se faz aqui a organização e segurança que se aplicou na cerimônia de encerramento. Desde as primeiras horas da manhã, a movimentação e controle de trânsito eram diferentes dos outros dias que se deram os jogos. Linhas de ônibus faziam trajetos diferentes, a linha 2, que dava acesso da Praça Tian anmen ao Olimpic Green, não circulou e o metrô utilizou de forma diferente as estações. Antes do estádio, a polícia, com muita discrição garantia a segurança dos locais públicos e transeuntes. A praça de competição e o Estádio Nacional, eternizado como o “Ninho do Pássaro”, tinha particular proteção. Homens do exército à paisana, voluntários, até canhões posicionados em locais mais estratégicos faziam parte da estrutura montada para garantir o espetáculo. Lembra-se aqui, dos cuidados com os aviões, que desde 11 de Setembro de 2001, não decolam 2 horas antes de eventos de grande porte e meia hora antes não sobrevoam área de competição.

Com tudo e todos no lugar, foi apreciar e viver a festa, o espetáculo com simulações de chuva de pétalas de rosas, flores com belas cores nos movimentos refinados das bailarinas, na habilidade dos bailarinos flutuantes, ligados a nuvens que se movimentavam dentro do estádio, com humanos voando no átrio do estádio, convergindo a atenção de todos pela beleza plástica de um mundo, um sonho.

Emocionados todos que estavam no estádio entre choros e risos, vale a mensagem simples, mas profunda de quem viveu um momento raro desta cobertura. Juan, um jornalista espanhol cadeirante que estava cobrindo para seu país próximo de nós, emocionado ao se despedir, disse com olhos carregados: “Até Londres, até sempre”.

Integração de PNE à cobertura merece destaque

Às vésperas do Dia de Luta da Pessoa com Deficiência (21/09), Jogos Paraolímpicos se encerram hoje, com experiência exitosa de integração no Projeto UCB Beijing

Lucio Jad,
de Brasília


Mais uma edição dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos se vai e com ela se encerram também os trabalhos de cobertura jornalística. Conseqüentemente podemos considerar quase concluída esta segunda fase do Projeto UCB Beijing; quase, uma vez que ainda há uma equipe em solo chinês e é fundamental que chegue bem “em casa”, para, aí sim, colocar- se um ponto nesta etapa.

Há quase dois meses, a Universidade Católica de Brasília, junto com seus parceiros, veicula notícias sobre os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Pequim, produzidas por uma equipe de alunos, ex-alunos e professores da própria universidade, diretamente da capital chinesa, mas também a partir de uma equipe de apoio, que atuou, aqui mesmo em Brasília, na base da cobertura.

Quem participou, pôde desfrutar as maravilhas e as dificuldades profissionais da comunicação “de verdade”. Além de tudo, os idealizadores do projeto resolveram apostar na inclusão de portadores de necessidades especiais no trabalho, buscando alternativas para aproveitar da melhor forma suas qualificações, mantendo o alto nível do processo.

Coincidentemente a festa de encerramento dos Jogos Paraolímpicos será na véspera do dia do deficiente, e em vez de um “tapinha nas costas”, a UCB preferiu dar-nos (já que – juntamente com Jailson Kalludo – sou um dos PNEs escalados) a chance de mostrarmos nosso valor. Então, aqui vão meus parabéns à instituição que cuida não só da formação de seus alunos, mas também prima pela inserção social e profissional dos mesmos.

Quando se encerrarem as notícias olímpicas, o êxito da cobertura – que inclusive já é premiada – será fato consumado. Ficarão apenas os laços de amizade, companheirismo e a vontade de fazer parte de outros processos de aprendizagem do gênero, pois, tendo em vista o histórico do melhor curso de comunicação do Distrito Federal, é provável a continuidade dessas bem sucedidas iniciativas acadêmicas.

É com orgulho que fecho minha participação e, em um último comentário, gostaria de dar uma medalha de ouro aos alunos e professores que estiveram juntos na busca da informação para transformá-las em notícias.

Brasil ganha o ouro em cima da China

Foto: Geyzon Lenin
Camilla Sanches e Geyzon Lenin,
de Pequim


O futebol de cinco para cegos conquistou sua segunda medalha de ouro paraolímpica por 2x1 no último dia de competições em Pequim. A equipe brasileira sofreu para derrotar os anfitriões que saíram à frente no placar. Ricardo Alves sofreu um pênalti, mas Severino Silva, o Bill, não converteu. O Brasil dominava a partida, porém, aos 24 minutos do primeiro tempo, Yafeng Wang marcou para a China.

Mas a alegria chinesa durou pouco. Ricardinho fez uma bela jogada e empatou a partida aos cinco minutos do segundo tempo. O atleta ficou com a vice-artilharia do campeonato. “Estamos aqui para defender o país e fizemos a nossa parte. Não é a toa que o nosso futebol é uma potência, é fruto de muito trabalho e dedicação”, garantiu o jogador.

A China tentou parar de várias maneiras o time brasileiro. Primeiro o chamador chinês, que fica atrás do gol para orientar os atletas, segurou o goleiro brasileiro. Sem sucesso, o time da casa apelou para a violência. Foram cometidas seis faltas no total. O permitido são cinco. Com pouco menos de trinta segundos para acabar a partida, Marcos Felipe, bateu o tiro livre e fez o gol da virada brasileira.

“Demos o nosso máximo. É muito bom ganhar dos donos da casa”, disse Marquinhos que dedicou a vitória à nação brasileira. Também medalhista de ouro em Atenas, João Batista acrescentou: “Os chineses não desistiram do jogo, eles lutaram até o final. Garantir o título contra um adversário que valorizou o nosso time é melhor ainda”.

A Argentina que tem o artilheiro da competição, Silvio Velo, com seis gols ficou em terceiro lugar. Eles conquistaram o bronze depois de empatar com a Espanha no tempo regular. Nos pênaltis venceram por 1x0.

Esporte, sociedade e racismo

A história não pode deixar o tempo apagar a vitória de Jesse Owens, em 1936. E nem nós devemos, agora, “tapar o sol com a peneira”

Jailson Kalludo,
de Pequim


O tom da questão é até um pouco metafísico, diante a situação que o homem, a mulher e seus descendentes negros passam na tal sociedade moderna “pós-contemporânea”, porque quando um cidadão negro que paga os seus impostos está no volante de um carro importado, as pessoas de pele branca, morena, mulata e até alguns negros torcem o nariz, e começam a “filosofar” sobre o episódio:

“– Sei, não... aquele cara tem pinta de traficante”; “– Talvez seja um chofer tirando onda com o carro do patrão”; ou “deve ser um policial no carro chapa-fria, numa investigação”.

Os meios de comunicação são os maiores responsáveis por essa segregação racial que perdura no nosso país. Seus produtos, como novelas e programas humorístico, colocam o ser negro em seu “devido” lugar.

Quem não se lembra do Sítio do Pica-pau Amarelo, programa infantil que encantou uma geração de pessoas, mas que tinha um cunho racista? Aquela senhora negra representava a condição do negro depois da Lei Áurea, quando quem não tinha para onde ir continuava na casa do antigo senhor de engenho, a quem tinha de chamar de “padim” e, à sua esposa, de “sinhá”.

Não interessa se a novela é das 18h00 ou do horário nobre. O papel do ator negro nas telenovelas já estava estabelecido, no roteiro do diretor – e não se precisa salientar quais eram os papéis oferecidos – e impregnado na cabeça de cada telespectador.
Até quando iremos tampar o sol com a peneira, ou esperarmos a justiça de Deus, a fingirmos para nós mesmos que não somos racistas?

O racismo de que eu falo não é só aquele explícito, do branco com o negro nem do negro com o branco, mas também aquele do racismo regional de estado para estado, visível quando alguém comenta que fulano é preguiçoso ou que o sotaque daquela moça é inadequado, tem que mudar para os padrões convencionais sulistas para trabalhar nesta emissora.

As características diferencias sempre existiram, temos apenas que respeitar.

No caso do esporte temos um exemplo que tornou se um marco na história dos Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim. O führer Adolf Hitler gastou muito dinheiro, construiu estádios com capacidade para milhares de pessoas. Trinta milhões de dólares foram gastos para erguer a Vila que acolheria os atletas de todos os continentes. Tamanho era o ufanismo de Hitler que ele convocou uma cineasta alemã de renome alemã, Leni Riefensthal, para a direção do filme oficial de competição, que deveria ser um louvor aos ideais nazista.

No entanto, nem tudo deu certo, o tiro sai pela culatra. Um atleta negro norte-americano chamado Jesse Owens venceu com folga a prova de 100m raso em 03 de agosto de 1936. Para desgosto do führer, Owens ganhou quatro medalhas de ouro nos jogos olímpicos de Berlim, nos 100m, 200m, no revezamento 4x100 e no salto em distância. Esse é um fato que a história não pode deixar o tempo apagar.

No Brasil, o racismo é tão antigo quanto a exploração do pau-brasil. Entretanto a desagregação que acontece com o afro-descendente é gritante e se espalha por todo o segmento da sociedade civil.

Muitas perguntas não se calam na sociedade negra: quantos bispos negros existem nas congregações religiosa das igrejas católicas e protestantes? Quantos magistrados negros estão à frente de um Ministério da Justiça, de um STJ, de um STF?

E quanto são os técnicos de futebol negros que atuam na primeira divisão? Quantos tenistas negros participam do Grand Slam? Será que um dia o Comitê Olímpico Brasileiro vai produzir suas estatísticas?

Despedida prateada na maratona

Foto: Geyzon Lenin

Luciano Franklin
de Pequim

Cinco atletas representaram o Brasil na maratona, última prova do atletismo paraolímpico.Tito Sena, da categoria T46, foi o brasileiro com o melhor resultado. O corredor terminou em segundo lugar, atrás do mexicano Mario Santillan, que levou o ouro e ainda bateu o recorde mundial com o tempo de 2 horas e 27 minutos. O bronze ficou com o italiano Walter Endrizzi.

Os 42 quilômetros da competição contemplaram pontos turísticos de Pequim como Templo do Céu e varias áreas residenciais da cidade. A largada aconteceu na praça da Paz Celestial (Tian'anmend) e, como nas Olimpíadas, a chegada foi no Estádio Nacional, o Ninho do Pássaro.

Ozivan Bonfim e Moisés Neto disputaram na mesma categoria de Tito Sena e ficaram na quinta e nona classificação respectivamente. Mesmo assim, os brasileiros comemoraram intensamente por completarem a prova.

Com o resultado, Tito Sena com a bandeira enrolada ao corpo vibrou com os torcedores por sua colocação. O maratonista manteve o ritmo do início ao fim, fez uma boa prova. "Não foi fácil. Há muitos competidores na maratona, mas me senti bem durante todo o caminho e mantive o ritmo", contou.

Sena treinou quatro horas por dia durante muitos meses para alcançar uma vitória na China, e por pouco não ficou em primeiro. "Eu pensei que poderia ganhar, estava muito perto do mexicano, mas infelizmente não consegui ultrapassá-lo. Esse é meu melhor resultado numa paraolimpíada" diz o atleta que dedicou a medalha a família e a esposa e em especial ao filho que perdeu em um aborto espontâneo.

Apesar do cansaço visível, todos os atletas que chegavam para completar a prova se confraternizavam e eram bastante ovacionados. Moisés ao chegar ao Ninho, ajoelhou e virou para torcida repetindo várias vezes o gesto de encostar a cabeça ao chão, como se fosse uma reverência, e foi correspondido com muitos aplausos.

Alex Mendonça foi o último brasileiro a chegar no estádio, ficando em 17 lugar.Aurélio Santos não completou a prova. eles competem na categoria T12, para deficientes visuais.

terça-feira, setembro 16, 2008

Lucas Prado é 100% ouro

Fotos: Geyzon Lenin
Geyzon Lenin,
de Pequim
Lucas Prado conseguiu chegar ao seu terceiro ouro em três provas que disputou nas Paraolimpíadas de Pequim. Nos 400m de hoje (16), o atleta ficou no lugar mais alto do pódio com o tempo de 50s27. Em segundo ficou o angolano José Armando detentor do recorde da prova. O bronze ficou o ucraniano Oleksandr Ivaniukhin.

Cansado no fim da prova, Prado não conseguiu nem falar sobre a vitória. Segundo o guia do corredor, Justino Barbosa, a fadiga é normal, porque a prova é uma das mais desgastantes para o atleta que é velocista.

“O sentimento é de dever cumprido. Conseguimos fazer um boa prova e o nosso objetivo, o ouro”, disse o guia que completou: “Poderiam ser quatro ouros, se os chineses não tivessem nos desclassificados no revezamento 4x100m”. Lucas Prado foi desclassificado no revezamento, porque seu guia teria o ajudado durante a qualificação.

O corredor brasileiro terminou sua participação nesses Jogos com 100% de aproveitamento. Nas três prova que disputou o atleta chegou em primeiro lugar. Nos 100m quebrou o recorde mundial com 11s19 e nos 200m quebrou o recorde paraolímpico com 22s71.

Mesmo sem Lucas Prado, o revezamento brasileiro conquistou a prata. André Luiz, o mais emocionado ao final da prova, foi quem abriu os 4x100m. Depois o veio alagoano Yohansson Nascimento que dedicou a vitória ao brasiliense Antonio Delfino Neto que não pode competir. Em seguida Claudemir Santos, o substituto do candango, passou o bastão para o jovem Alan Oliveira.

O paraense Alan Oliveira fechou a prova em 45s25. “Estou muito feliz por participar da minha primeira Paraolimpíada e ganhar uma medalha”, disse o atleta que competiu com duas próteses que custaram US$ 10mil, cada uma. Em terceiro chegou a equipe da Austrália, 55 milésimos depois do Brasil. O ouro foi para os americanos que terminaram o revezamento com o novo recorde mundial, 42s75.

Chuva atrapalha Rosinha

Ailim Braz,
de Pequim


A chuva em Pequim não deu trégua e acabou prejudicando a lançadora de disco Roseane dos Santos. A pernambucana marcou 30,51m e ficou em sétimo lugar no penúltimo dia de competições. A nigeriana Eucharia Iyiazi quebrou o recorde paraolímpico e garantiu o ouro com a marca de 35,21m. A prata ficou para a búlgara Stela Eneva (34,58m), enquanto o terceiro lugar foi para a argelina Nadia Medjemedj (28,74m).
Foto: Ailim Braz
A competição começou às 17h e só terminou por volta das 19h30. A brasileira foi uma das últimas a lançar e, no primeiro arremesso, foi penalizada por uma falta. “Durante o meu lançamento a chuva estava mais forte. Isso me atrapalhou. Mesmo assim, eu tenho que agradecer ao Papai do céu”, disse.
Em relação às outras competidoras, Roseane avalia que “elas foram muito bem”. E aproveitou para deixar seu recado: “Todas estão de parabéns, mas elas que me aguardem”, disse a atleta, já pensando no próximo mundial.

Para sua terceira participação em Paraolimpíadas, Rosinha esperava um resultado melhor. Mas a sétima posição não a desanimou. Ao sair da área de competição, ela era toda sorrisos. A atleta se considera uma guerreira e prometeu comemorar em grande estilo a participação em Pequim. “Hoje a Rosinha vai cair na gandaia. A boate da Vila Paraolímpica que me aguarde, porque o chão vai ser pouco para mim”, brincou.

Títulos
Roseane Ferreira dos Santos é especialista em lançamento de disco, de dardo e no arremesso de peso. Ela teve a perna esquerda amputada depois de sofrer um atropelamento e, desde quando começou no atletismo, compete pela classe F58.

Nas Paraolimpíadas de Sydney, em 2000, ela bateu dois recordes mundiais. Quatro anos depois, em Atenas, ela superou sua marca anterior e, mais uma vez, garantiu medalha para o Brasil no lançamento de disco. Em 2007, Rosinha saiu do Parapan do Rio de Janeiro com o ouro e o bronze, no disco e no peso, respectivamente.

Nadadores comemoram campanha brasileira na noite da China

Foto: Geyzon Lenin

Geyzon Lenin,
de Pequim

Os holofotes do esporte são substituídos por luzes de boate. Foi em uma das mais famosas casas noturna da China que os nadadores Daniel Dias, André Brasil e Phelipe Rodrigues se divertiram depois de nove dias de competições e 19 medalhas conquistadas. Os jogadores do vôlei sentado também estavam presentes na comemoração regada a refrigerante.

Os brasileiros foram acompanhados por espanhóis, italianos e russos que também aproveitaram a noite para descontrair da tensão dos Jogos e da vontade de ganhar uma medalha. Muito felizes com a campanha do Brasil, os atletas esbanjavam entusiasmo e tomaram conta da pista de dança. O Dj tocava hip-hop e músicas eletrônicas.

A China Doll, que no período Olímpico sempre esteve cheia, no Paraolímpico teve pouco movimento, mas muita animação. A casa fica no centro noturno para estrangeiros, o Sanlitum. O bairro foi revitalizado para as Olimpíadas e possui a maior loja da Adidas do mundo com mais de 1,3km quadrados. De centro da boêmia chinesa, tornou-se o espaço reservado para diversão dos turistas.

A boate preparou-se adequadamente para receber os atletas Paraolímpicos. Com o auxilio de rampas e corrimões os competidores conseguiram andar e se desvencilhar de todos os obstáculos no caminho. O espaço que recebeu celebridades esportivas, como Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, e Michael Phelps, o maior nadador da história Olímpica, também serviu para os brasileiros comemorarem a excelente campanha do país que neste penúltimo dia de Paraolimpíadas está na 10ª posição, com 45 medalhas.

Enfim o ouro

Camilla Sanches e Luciano Franklin,
de Pequim


Foto: Luciano Franklin

Mais uma dobradinha brasileira. Terezinha Guilhermina e Jerusa Santos, classe T 11, sobem ao pódio no penúltimo dia de competições no Ninho de Pássaro. Elas conquistaram o ouro e o bronze dos 200 metros rasos.

Diante de um estádio lotado, a paranaense liderou a prova do começo ao fim. Terezinha geralmente treina e corre na raia três, porém ter largado na raia cinco não comprometeu seu resultado. A atleta fez o tempo de 25 segundos e 14 centésimos.

Com uma prata e um bronze conquistados nestes Jogos, só faltava o ouro para completar sua coleção. “Vim pra cá com o objetivo de dar um presente para o meu pai. Essa medalha é chave da casa que prometi a ele”, revelou a corredora.

Jerusa Santos permaneceu em segundo lugar durante grande parte da disputa, mas a chinesa Chunmiao Wu foi mais rápida e levou a prata. “Entrei nos 200 metros mais confiante e conseguimos um resultado surpreendente”, confessou a paraatleta que admitiu ter cometido vários erros nos 100 metros porque estava muito nervosa.

Ao final, as brasileiras percorreram todo o Estádio Nacional cumprimentando o público que tanto as incentivou. “Sei que tenho torcedores especiais e esta vitória foi para eles”, dedicou a medalhista de ouro, referindo-se à família e, em especial, aos irmãos Pedro e Sirlene Guilhermino que também disputaram as Paraolimpíadas.

A cerimônia de premiação aconteceu debaixo de uma chuva intensa. Terezinha recebeu de joelhos o ouro tão esperado e vibrou pela conquista nos braços do guia Chocolate.

“Se nós fracassarmos, eles fracassarão”

Jailson Kalludo,
de Pequim


O portador de necessidade especial nasce com a sina dos adjetivos. Já começa no seio de sua família. Quando os seus pais o aguardam por nove meses, as expectativas são as melhores possíveis. Mas quando o médico pede para ver uma radiografia, percebe algo que não é comum na gestação de uma mãe supostamente saudável.

O médico pergunta se houve contato com alguém que teve rubéola; ou se na família há alguém com alguma deficiência congênita por hereditariedade.

“– Não, senhor”. Com um tom firme na voz, os pais perguntam em conjunto: “– Por quê, doutor?”

“– Não tenho certeza. Temos que averiguar, fazer outros exames para uma análise mais complexa do seu quadro clínico, para termos um resultado mais fidedigno. Só assim eu poderei dar um laudo conclusivo do seu prognóstico.”

Passam-se algumas semanas e nada de resultado. Coisa de hospital público e meio complicado; principalmente no ano de 1968, quando o regime militar ainda estava em alta.

O tempo não espera, nasce a criança. O laudo dos exames ainda não tinha saído, agora não importa.

Vem a surpresa. Nasceu Pedro, nasceu Maria, nasceu João. Todos, portadores de necessidade especial. É aí que a porca torce o rabo.

Os pais ficam entristecidos com a situação, mas não desanimam.

Nem sempre foi assim. Em tempos passados, o pai poderia findar com a vida desse ser. A história não a de mentir sobre determinadas civilizações que não permitiam que a progenitora desse a luz a um filho com uma deficiência física.

Na Grécia de Pitágoras, Parmênides, Demócrito e Heráclito – a qual se denominou de o berço da cultura helênica –, essa prática foi perpetuada por muito tempo, chegando até as culturas indígenas da América do Sul.

Desabafando com a esposa, o pai fala: “– Temos que dar um jeito para estas crianças terem um futuro melhor, e isto só pode acontecer se nós colocarmos essas crianças numa escola”.

A mulher retruca: “– Homem de Deus, que escola vai acolher estas crianças com deficiência física?”

Sabiamente, ele responde: “– Não fazendo nenhuma uma discriminação a ninguém. Graças ao nosso bom Deus, nossas crianças não têm nenhum problema neurológico; pelo contrário, elas são muito ativas nem parece que têm alguma deficiência física. Não podemos desistir. Se nós fracassamos, também eles fracassarão”.

É de famílias como estas que surgem as Guilherminas, os Ariosvaldos, as Shirlenes, as Verônicas, os Lucas.

Esses paraatletas merecem todo o nosso respeito e a nossa estima, por que cada um deles tem uma razão de viver e é símbolo máximo de superação.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Revezamento traz 19ª e última medalha da natação nos Jogos

Ailim Braz,
de Pequim


Fotos: Geyzon Lenin

O Brasil fez bonito na última prova da natação nas Paraolimpíadas de Pequim. Daniel Dias, Luis Silva, Ivanildo Vasconcelos e Clodoaldo Silva conquistaram a prata no revezamento 4x50m. A equipe espanhola ficou em terceiro. Enquanto os chineses garantiram o ouro com o tempo de 2min33s15, superando o recorde mundial, que pertencia ao Brasil.

Daniel Dias foi o primeiro a cair na piscina. Ele nadou costas e, na troca para Ivanildo, o Brasil já estava com o segundo melhor tempo da prova. Nessa posição, o Brasil se manteve até o final da disputa, quando fechou no tempo de 2min39s31.

A China evoluiu da quinta para a primeira colocação, logo na entrada do terceiro revezador. Com a Espanha, a progressão foi ainda maior. Do sexto, eles subiram para o quarto lugar. E, ao terminarem a prova, a diferença dos espanhóis para o quarteto brasileiro era de apenas 1 segundo e 7 centésimos.

Da equipe verde-amarela, Clodoaldo Silva foi o que completou o percurso em menor tempo, com 34s59. Embora abalado com a reclassificação no início dos Jogos, ele se empenhou para trazer um bom resultado. “É uma alegria e uma satisfação muito grande. Depois da reclassificação, fui obrigado a participar das provas individuais mesmo não encontrando sentido algum para elas. No revezamento foi diferente. Meu intuito era ajudar a equipe, e tenho certeza de que eu contribuí.”

A importância de se trabalhar em grupo também foi mencionada por Luís Silva. Em sua terceira participação em Paraolimpíadas, ele valorizou a importância de cada um na equipe. “Nós quatro nadamos muito bem. Não estamos representando um ou outro atleta, mas o somente o Brasil”, disse.

Depois da premiação, Daniel Dias foi o porta-voz da equipe na coletiva de imprensa. Além de agradecer aos companheiros, ele descreveu o revezamento como “fantástico” e parabenizou a China pela realização dos Jogos, enaltecendo as piscinas do Cudo d’Água. “É uma estrutura fantástica e eles, realmente, estavam preparados para realizar tanto as Olimpíadas como as Paraolimpiadas.”

Rosinha pode conquistar sua quarta medalha paraolímpica

Ailim Braz,
de Pequim

Foto: Ailim Braz

Nem a pimenta, nem o calor, e muito menos a poluição de Pequim conseguem tirar de Roseane dos Santos a empolgação para disputar sua terceira Paraolimpíada. Dona de dois recordes mundiais (um no arremesso de peso e outro no lançamento de disco) e de um ouro no Parapan do Rio de Janeiro, Rosinha se sente mais preparada que nunca. Além dos títulos, a atleta traz na bagagem a confiança em Deus e a companhia inseparável de sua “filha”, a bonequinha que sempre a acompanha durante as provas mais importantes.

Natural de Pernambuco, Roseane dos Santos compete na classe F58. Ela perdeu a perna esquerda depois de um atropelamento e, antes do esporte, trabalhava como empregada doméstica. Para a competição do próximo dia 16, a intenção da atleta é garantir uma nova dourada para o Brasil. Mas ela sabe que a tarefa vai ser difícil. “O nível de todos os atletas está muito forte. Mesmo assim, não posso descartar a possibilidade de conquistar medalha. Quando se pensa em China, a gente tem que pedir a ajuda de Deus e tentar fazer o nosso melhor”, disse, referindo-se à nova grande potência do esporte.

E é o reforço dos Céus que a recordista aponta como o seu diferencial em relação às concorrentes. Segundo Rosinha, nem sempre é ela quem arremessa. “Antes das minhas provas eu sempre converso muito com Deus. Em Sydney, eu não me sentia preparada. Então eu disse: eu não posso lançar não, Deus. Tu podes lançar por mim. E ele fez eu bater o recorde mundial”, lembra.

Rosinha comemora a atual fase do paraesporte no mundo, mas afirma que os investimentos ainda são muito reduzidos e que só agora, na China, ela percebe o esporte olímpico e o paraolímpico sendo tratados da mesma forma. No Brasil, porém, segundo a pernambucana, há muito o que melhorar. “Muitas vezes o atleta passa necessidades, mas vem aqui e honra nosso país com força, garra e determinação. Claro, não são todos que vão sair daqui com a medalha no peito. Mas a gente está dando o nosso sangue aqui. Infelizmente, nem todo mundo reconhece”, lamenta.

Decidida a trazer mais uma alegria para o Brasil, Rosinha treina duas horas por dia, e mantém uma alimentação balanceada, à base de frutas. Nas arquibancadas do Ninho de Pássaro, ela é presença freqüente na torcida pelos conterrâneos. É nesse estádio que, às 17h de amanhã (6h do dia 16, em Brasília), ela buscará aumentar a festa brasileira na China. “Pequim, simplesmente, está show. E para ficar mais show ainda, espero conquistar o meu melhor resultado no lançamento de disco”.

Lição paraolímpica

Luciano Franklin
de Pequim

Foto: Geyzon Lenin


Daniel Dias, Luís Silva, Ivanildo Vasconcelos e Clodoaldo Silva encerraram com a prata a participação brasileira na natação nessa segunda-feira, penúltimo dia de competição. Mas nem só de pódio vive o Brasil. Antes de ganhar a medalha, Daniel Dias em companhia de André Brasil, Marcelo Colet e Phelipe Rodrigues ficaram em último no revezamento 4x100.

Ficar na última colocação, frustra muitos expectadores, mas não os atletas. As respostas que parecem ensaiadas, todavia sinceras, sempre vem com um sorriso e com pensamentos positivos para os próximos jogos. "Não foi dessa vez, vai ficar pra próxima, tentei usar uma técnica diferente, mas não deu certo", lamenta Adriano que participou da final na prova dos 50 metros livre na categoria S6.

E nem aqueles que ganham medalha escapam de críticas. "Acho que errar é humano, mas perdoar é divino, já sou uma vitoriosa só por estar aqui", desabafa Terezinha que levou o bronze e não se sentiu frustrada por não conseguir o ouro nos 400 metros.

A expectativa normalmente de um torcedor é que seu time ganhe. Não seria diferente em uma paraolimpíada. A superação de uma deficiência, não tem tanta importância como uma vitória. Quem vira notícia é quem ganha medalha.

O Brasil é um dos países candidatos a sediar as olimpíadas e paraolimpíadas 2016. O desabafo de nossos atletas, sugere uma nova pauta de conscientização. Todos se queixam da falta de assistência do governo e de possíveis empresas patrocinadoras. "Não adianta cobrar medalhas se não temos locais adequados para treinar. A valorização do esporte já é pouca, imagina nos paradesportos? Sem divulgação, como é que as empresas irão patrocinar?", indigna-se o técnico de halterofilismo, Junior Ferreira.

Final histórica para o tênis de mesa

Camilla Sanches,
de Pequim

O tênis de mesa por equipe levou a medalha de prata na manhã desta segunda-feira (15), em Pequim. A dupla brasileira formada por Luiz Algacir e Welder Knaf, classe C3, perdeu para os franceses Jean Phelippe Robin e Florian Merrien por 3 sets a 1.

Na semifinal os brasileiros derrotaram os donos da casa, já um excelente resultado segundo o chefe da delegação brasileira, Alberto Martins: “A China tem tradição nesta modalidade. Foi uma grata surpresa e superou as nossas expectativas”, disse.

Na melhor de cinco, a França venceu por de 3 sets a 2 o primeiro jogo. Logo em seguida, Welder empatou para o Brasil com o mesmo placar (3x2). Porém, na disputa de duplas o Brasil perdeu por 3 sets a 1. Para finalizar, Luiz Algacir não conseguiu impedir que o francês Florian Merrien vencesse os três sets finais.

Agacir que está estreando em competições paraolímpicas considera que o apoio da torcida brasileira foi muito importante no jogo. Para ele a conquista vai permitir que mais pessoas prestem atenção no esporte no Brasil. Em sintonia, Alaor Azevedo, presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, lembra que foi uma evolução bastante rápida no esporte. “Há dois anos, no campeonato mundial em Motreux, não vencemos um simples set, mas agora temos no nosso time o 4º e o 5º melhor jogador do mundo”, avaliou.

Para o Secretário Geral do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parson, as conquistas inesperadas compensam medalhas que não vieram: “Algumas modalidades têm nos surpreendido. A bocha foi uma delas e agora o tênis. Vencer dos anfitriões, considerados como a grande potência do tênis de mesa, foi um feito importantíssimo. Chegar a final já foi uma grande vitória”, disse ele.

Marco Aurélio já pensa em Londres 2012

Ailim Braz,
de Pequim


Em Pequim, é difícil não identificar os brasileiros. E quando eles estão nos estádios, parece ainda mais fácil. Se for atleta, então, mesmo nas arquibancadas, já o identificamos de longe, pelo uniforme da delegação. Às vésperas de sua estréia paraolímpica, foi assim que encontramos o lançador de discos Marco Aurélio Borges. Ele assistia à competição de atletismo, no Ninho de Pássaro, e, de lá, nos levou para conhecer os bastidores do estádio, onde só os competidores têm acesso.

Foto: Ailim Braz
Impressionado com o tratamento e atenção oferecidos aos atletas, Marco Aurélio confessa não ter se adaptado bem à culinária chinesa. No período de aclimatação, em Macau, o atleta chegou a emagrecer quatro quilos, por não suportar a comida apimentada. Agora, o lançador vive uma situação inversa: com o peso recuperado, tenta resistir à tentação dos doces, carnes e sanduíches oferecidos na Vila Paraolímpica.

Nos Jogos Parapan-americanos do Rio, Marco Aurélio conquistou o bronze no dardo e no disco. Aos 30 anos de idade, 120kg e 1,92m de altura, ele participa de sua primeira Paraolimpíada. E embora o resultado nesta segunda-feira não tenha sido muito bom – ele marcou apenas 41,53m no lançamento de disco e ficou com a nona colocação –, considera a experiência uma das melhores de sua vida.

“O paraesporte tem revelado atletas de nível muito alto. Eu comecei no atletismo há dois anos, e chegar até aqui, tão rápido como foi, já é uma grande conquista”, disse.

Nos últimos dias antes da prova, Marco Aurélio reduziu a intensidade dos treinos e preferiu estudar o desempenho dos concorrentes. Por isso, a marca dos outros atletas não o surpreendeu. “Eu esperava ver até um novo recorde mundial, mas nunca descartei a possibilidade de trazer uma medalha. Imagino o dia em que será comum atletas olímpicos e paraolímpicos disputando juntos uma mesma prova”, afirma o lançador, referindo-se ao preparo dos desportistas.

Depois da experiência nos Jogos de Pequim, Marco Aurélio se prepara para Londres. “Esse era o meu foco desde o início. E tenho certeza que a participação em Pequim me ajudou muito nesse sentido. Voltarei para o Brasil uma outra pessoa”, contenta-se.

"Rosário da sorte" traz o bronze para o Brasil

Foto:Geyzon Lenin
Geyzon Lenin,
de Pequim
O atleta brasileiro Odair Santos conseguiu ontem (14) conquistar a medalha de bronze nos 10000m. A prova que durou mais de meia hora teve como campeão o atleta do Kênia, Henry Kiprono. Ele cruzou a linha de chegada em 31min42s97, novo recorde mundial. Em segundo lugar chegou Abderrahim Zhiou, da Tunísia.

O brasileiro liderou a prova por 9000m, ou 20 voltas das 25 que fazem parte do circuito. Para Odair, as principais dificuldades nessa prova são o início e o fim. “Esforcei-me bastante e esse bronze tem gosto de ouro para mim”, disse. Mostrando o rosário que carrega durante todas as competições, considera que essa vitória é fruto de seu esforço e de sua religiosidade. O corredor também chegou em terceiro lugar em outras duas provas, 5000m e 800m.

Paulista de 24 anos, Dinho como é conhecido, conquistou o ouro nos 400m, 800m e 1500m, durante o Parapan-Americano de Mar Del Plata, na Argentina. Ele corre na classe T12, baixa visão e em 2007, no Parapan-Americano do Rio de Janeiro, conseguiu ficar no lugar mais alto do pódio nos 1500m, 5000m e 10000m. Sua inspiração para correr, segundo afirma, é o fundista Paul Tergat.

Posso ajudar

Luciano Franklin
de Pequim

Foto: Luciano Franklin


O suporte oferecido aos visitantes durante os jogos olímpicos e paraolímpicos vai além das estruturas dos estádios. Desde a chegada em Pequim, os turistas têm a sua disposição o serviço dos voluntários, pessoas treinadas para ajudar. Eles somam mais de um milhão e estão espalhados entre as cidades sedes.

Com um sorriso estampado no rosto e sempre dispostos a resolver as dúvidas dos turistas e atletas, esses chineses fazem a recepção da edição dos jogos, diminuindo a barreira comunicação.

Para oferecer um serviço de qualidade, o trabalho voluntário foi iniciado em abril do ano passado. Como treinamento, os chineses participaram de conferências sobre a história dos jogos olímpicos, conhecimentos de esporte e expressões de gentileza, além de informações básicas para com os paraatletas indo dos modos de auxílio até sinais gestuais para facilitar o entendimento.

Segundo Tan Ling, voluntária de tradução e estudante de língua espanhola, os jogos mudaram a China. "Há sete anos a China se propôs a fazer um evento esportivo internacional de grande magnitude, e tem conseguido. Desde que cheguei a Pequim tinha o sonho de ser voluntária. Essa experiência de poder ajudar e conhecer novas pessoas têm sido ótima.", conta entusiasmada a chinesa.

A estudante que é do sul da China, da cidade de Suzhou próximo a Xangai, também sabe falar inglês, trabalha como voluntária de línguas no centro principal de mídia e participou tanto das olimpíadas como das paraolimpíadas. De acordo com Tan, os dois jogos receberam a mesma atenção pelo governo chinês.

Os voluntários são normalmente estudantes universitários e todos tem de 18 anos pra cima. Há também voluntários estrangeiros e outros com mais de 80 anos. Os idosos trabalham menos tempo que os mais novos. Em média a jornada diária é de 4 a 6 horas intercalando um dia de trabalho e um dia de folga, dependendo do lugar onde se trabalha. Os voluntariados foram divididos em 26 classes e as classes com mais demanda são as de tradução e de transporte.

Voluntários nas paraolimpíadas

Como há menos países participando dos jogos paraolímpicos, há também menos jornalistas, menos público e menos voluntários. Entretanto, os voluntários que trabalham nesta edição tomam todo cuidado tendo mais atenção porque lidam com pessoas especiais.

Segundo Pan Lanxi, chefe dos voluntários de língua, os voluntários de tradução passaram por um teste de escrita e oral para serem aprovados. Ao total são mais de 2000 voluntários de tradução nos estádios para ajudar os visitantes dos paraolímpicos. Para ela a falta de experiência para um evento tão importante, pode ter sido a maior dificuldade da China em fazer um bom trabalho na área desportiva. "Convidamos os chefes de Sidney e de Atenas para vir a China fazer conferências para ensinar o que devemos fazer e como trabalhar em certas ocasiões", alega Pan.

"É o nosso dever fazer o melhor para servir os turistas, atletas e jornalistas. Quando eles ficam felizes com o nosso trabalho, nós também ficamos, pois é um prazer recebê-los em nosso país." Afirma contente a chefe ao saber dos elogios feitos aos voluntários. E conclui que os voluntários conduzem o trabalho como se existissem dois jogos olímpicos. "A paixão pelo esporte é a mesma, as pessoas são iguais as necessidades que são diferentes.", diz.

Sepultando a discriminação ao deficiente na China

Fim das Paraolimpíadas é aguardado, com esperança de mudanças, por 60 milhões de chineses

Aylê-Salassié,
de Brasília


“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos” na China. Sessenta milhões de chineses portadores de deficiência aguardam eufóricos pela vitória final do seu país nas XIII Paraolimpíadas 2008, de Pequim, porque os resultados dos Jogos vão obrigar o bilhão de chineses a finalmente reconhecê-los como cidadãos, com direito a emprego e até a freqüentar a Universidade.
As vitórias da China nessas Paraolimpíadas consagram a luta de Deng Pufeng, um deficiente, filho do ex-presidente Deng Xiaoping, que durante a revolução cultural, teria sido atirado, pelos colegas, do quarto andar de um dormitório de estudantes na Universidade de Pequim, o que resultou na fratura de uma vértebra, transformando-o definitivamente num paralítico.

De lá para cá, nem ele, nem seu pai, descansaram mais na tentativa de extirpar da China a discriminação contra deficientes, promovendo a criação de hospitais e centros de reabilitação que possibilitassem o tratamento dessas pessoas. Deng Pufeng chegou a presidente da Federação dos Deficientes da China, e é hoje também o diretor-executivo do Comitê de Organização dos Jogos Paraolímpicos de Pequim. Sua maior responsabilidade é, entretanto, demonstrar para os chineses espalhados pelo país a importância do reconhecimento dos seus deficientes físicos ou mentais.

Na China existem 60 milhões de pessoas com deficiência física, menos de 5 mil têm acesso à universidade, e muito menos ao trabalho. A história dos portadores de deficiência no país sempre foi dramática. Segundo a jornalista Sônia Bridi, que trabalhou dois anos como correspondente na China, é comum, no interior, os pais abandonarem filhos deficientes em orfanatos, “à beira da estrada para morrerem”, e até encontrar “doentes mentais trancados em jaulas amarrados ou escondidos pelas famílias” . Os portadores de deficiência ainda são discriminados a China. Até pouco tempo, ser deficiente no país era considerado vergonhoso.

A legislação contra a discriminação na China de hoje é mais completa, mas a fiscalização mostra-se tolerante com as empresas e universidades. Alguns rejeitam o seu cumprimento e outros o fazem disfarçados ou contemporizadamente. Segundo declaração do diretor do Educação e Emprego do Departamento de Pessoas com Deficiência, da província de Hunan, Zhou Chengsheng, “as escolas enfatizam, como proposta, o desenvolvimento moral, intelectual e físico, e suas direções sabem que algumas pessoas não são fìsicamente perfeitas”, e as descartam sem grandes explicações, nem conseqüências.

As universidades têm metas de empregabilidade de seus profissionais, e os deficientes contribuem para a queda desse índice, segundo Chengsheng, ao não conseguirem emprego com facilidade. Liu Wenxiu, uma candidata portadora de deficiência ao curso de Medicina à Universidade de Hunan, concluiu que ela estava sendo descartada não pela escola, mas pela própria sociedade, que convive coniventemente com essa situação. O governo propõe-se a mudar inteiramente a situação nos próximos 5 anos. A vitória da China nos Jogos Paraolímpicos vai ajudar muito a reverter esse quadro.

Projeto UCB Beijing 2008

Futebol de sete: sonho do ouro é adiado

Geyzon Lenin,
de Pequim


Foto: Geyzon Lenin
O time brasileiro de futebol de sete (paralisia cerebral) sofreu sua segunda derrota ontem (14), para a Ucrânia. Com a derrota a equipe brasileira disputará a medalha de bronze contra a seleção do Irã, nesta terça-feira, às 14h pelo horário de Pequim, às 03h da manhã em Brasília. A final será entre Rússia e Ucrânia.

O placar elástico da derrota 6x0 para a Ucrânia não diz muito sobre a partida. Nossa seleção fez um primeiro tempo apático e sem grandes chances de gol. Chutou muito na tentativa de marcar, 13 vezes, mas a barreira imposta pelos adversários não deixava a bola passar.

A Ucrânia conseguiu impor seu ritmo de jogo e no contra-ataque rápido sempre levava perigo à meta do Brasil. O primeiro gol foi aos 16 minutos. Em uma troca de passes e muita correria os ucranianos marcaram. A respota brasileira foi comandada pelo capitão do time Leandro Marinho, em cruzamentos e chutes longos.

Em uma bola perdida no ataque, a Ucrânia aproveitou a defesa brasileira ainda se arrumando e fez seu segundo gol, já no fim da primeira etapa.

Na volta dos vestiários, o time brasileiro parecia outro. O técnico da equipe, Paulo Fernando, a beira do campo pedia para o time jogar pelas pontas. Depois de 11 minutos de sufoco, quem acabou marcando foi à Ucrânia. Taras Dutko aumentou o placar para 3x0.

Faltando pouco mais 15 minutos para o fim da partida, todo time brasileiro foi para frente, na tentativa de reverter a derrota. Nos cruzamentos, até o goleiro brasileiro Marcos Ferreira foi para o ataque e quase fez um gol.

Com o tempo e o placar contra, o time do Brasil abriu as portas para o quarto e o quinto gol dos adversários. Enquanto os brasileiros ainda tentavam marcar, Denys Ponomaryov decretou a derrota brasileira com o sexto gol.

domingo, setembro 14, 2008

Imprensa precisa ser inclusiva como o paradesporto

Ao evoluir para as questões de agilidade no processo de produção, os meios de comunicação esquecem-se de uma coisinha básica – humanizar

Jailson Kalludo,
de Pequim


Qual é a verdadeira função da imprensa - seria ética, comprometida com os fatos e com a veracidade em suas fontes? Onde se escondeu a verdadeira matéria jornalística nos teclados do computador? Ouço discriminarem o jornalismo e internet, como se a possibilidade do “Ctrl C” e do “Ctrl V” aniquilasse os princípios do jornalismo de vanguarda.
Não me convence este papo de a culpa de tudo estar na senhora dona internet. Isso é papo de comedor de letrinhas bem minúsculas. Vamos mudar este norte e buscar a verdadeira essência do jornalismo de ponta. O que implica não fazer de conta que estamos fazendo jornalismo, a escrever o que não se viu e nem se escutou.
O que o professor de comunicação pode dizer para o seu aluno, sobre as mazelas da mídia e sobre o que ela proporciona para o seu leitor, ouvinte e telespectador? Qual a credibilidade que postula uma entidade que não respeita a dignidade humana e expõe sua vida como se fosse um outdoor colocado na frente de uma grande avenida comercial para todos saberem do acontecido, mesmo que o conteúdo da historia não tenha sido checado por fontes fidedignas, causando conseqüências e estragos irreparáveis na vida daquele cidadão que, por um a caso do destino, virou manchete por um dia? Nesse pequeno mundo de imagens, closes, muita gente se vende por pouco, perdendo a sua dignidade, leiloando a sua ética e não se importando com ninguém e nem consigo mesmo.

Para algumas pessoas o que interessa é a notícia “fervendo”, não se interessando os meios sórdidos para consegui-la, atropelando gregos e troianos, e aniquilando projetos que deveriam ser sólidos, para ser perpetuados e seguidos como exemplos de vida. Mas cultivar o ego pelo simples ego é vergonhoso, ultrajante, corrompe os jovens que pela sua natureza virginal ficam se saber que rumo tomar.
Alguns teóricos do jornalismo impresso dizem que uma matéria está morta se não tem efeitos. A imprensa com o seu aparato jornalístico não é inclusiva, é totalmente exclusiva. Eu discordo em número, gênero e grau. Não há matéria morta e sim escritos que servirão um dia como arcabouço teórico para a prosperidade.
Já dizia o grande cantor e poeta Raul Seixas: no dia que a terra parou, o empregado não saiu para trabalhar porque não tinha trabalho. Eu irei parodiar esta frase dizendo assim: os discípulos não fizeram o que deveriam fazer porque os mestres não estavam lá. E, no meu entendimento não podemos cobrar, e nem exigir o que não ensinamos. Isto na situação pedagógica, coisa de que eu entendo, porque eu estou inserido no processo.

No caso da informação pela informação, temos que questionar o papel da imprensa e seus produtos. O jornalismo estar em xeque-mate. Os meios de comunicação estão sempre evoluindo para as questões de agilidade no processo de produção dos mesmos, só que esquecem de uma coisinha básica – humanizar. O centro editorial e não aborda a dignidade humana. É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã, como diz a canção.

Para os jornalistas, é preciso seguir o exemplo do paradesporto na íntegra, e não fingir – por trás de uma filmadora, câmara digital, ou frente a um laptop –, dizendo que está fazendo o seu papel de bom cidadão burguês que se preocupa com a causa. Isto não basta. O mundo já viveu maquilado por milênios. Vamos rasgar essa pauta que não diz nada para esta sociedade insólita, medíocre, cheia de vícios, de que eu também faço parte.
A mídia comete muitos erros, mas acerta muitas vezes. Temos profissionais muito sérios, que levam o jornalismo ao pé da letra e não se corrompem com falsas informações que uma ou outra fonte vêm soprar nos se ouvidos, através do telefone, ou dos correios eletrônicos. Este é um desabafo de um cidadão que valoriza a vida e o respeito compartilhados.

Todo visto tem um preço

Ailim Braz,
de Pequim


Foto: Luciano Franklin
Devido ao sucesso das Olimpíadas, muitos turistas resolveram estender o tempo de permanência em Pequim. A intenção principal era acompanhar, também, os Jogos Paraolímpicos 2008. No departamento de imigração, no entanto, os visitantes estrangeiros depararam-se com algumas barreiras diplomáticas.

Além de pagar uma taxa de 160 yuans (cerca de R$40,00), para pedir a extensão do visto, o turista teve de abrir uma conta em algum banco chinês e depositar 100 dólares para cada dia a mais que pretendesse ficar na capital chinesa. A abertura da conta e o cartão magnético são gratuitos. Mas, para receber o comprovante de depósito, é necessário desembolsar 20 yuans (cerca de R$5,00).

O processo de solicitação do visto dura em média sete dias. Enquanto isso, o documento de identificação internacional da pessoa fica retido. Como substituição, o solicitante recebe um protocolo amarelo. E, embora o dinheiro possa ser sacado dois dias depois de depositado, a exigência do governo chinês tem revoltado os estrangeiros.
Somados o preço da diária em um hotel três estrelas, duas viagens de metrô e três refeições, o valor total para passar um dia na China não ultrapassa 200 yuans (o equivalente a 30 dólares).

“Acredito que essa tenha sido a forma encontrada para fazer entrar dólares no país. O pior é ter de passar por isso, sabendo que, até antes dos Jogos, o procedimento para renovar o visto era diferente”, disse o brasileiro Mauricio Savarese, que passou 45 dias em Pequim.

Hospedado na casa de amigos residentes na China, na manhã seguinte à expiração de seu visto, o repórter acordou com a polícia batendo à sua porta. Mas, na delegacia, a situação do correspondente se resolveu em 15 minutos. Ele foi dispensado de efetuar o depósito e conseguiu estender a permanência no país pagando apenas a taxa imposta pelo serviço de imigração.

sábado, setembro 13, 2008

Jogos de Beijing estão na era do “torcedor multimídia”


Equipado tecnologicamente, o novo torcedor quer registrar, rever, analisar, multiplicar e compartilhar sua visão do acontecimento esportivo
Foto: Paulo Trindade
* Paulo Trindade
De Beijing


Hoje numa partida de Basquete de cadeira de rodas entre a seleção do Canadá versus Israel, no Beijing Science and Tecnology University Gymnasium, num jogo muitíssimo disputado valendo uma vaga para as semifinais dos Jogos Paraolímpicos, a arena estava lotada e uma grande quantidade de torcedores divididos entre assistir ao jogo e fotografar ou filmar os melhores momentos.

Nossa equipe de cobertura estava atenta aos movimentos dos basquetebolistas na quadra e dos torcedores na arquibancada. O garoto Wan, de 12 anos estudante, que acompanhava o pai na assistência à partida empolgante, portava uma filmadora digital de última geração para amadores e parecia estar mais preocupado em gravar o jogo do que propriamente com o jogo em si, que mantinha seu pai totalmente concentrado nos belos lances do jogo, que terminou com o placar de 57 a 47 para o Canadá.

Os Jogos Paraolímpicos de Beijing 2008 estão apresentando inovações também no comportamento do torcedor. De um partícipe tradicional, que apenas, assistia aos jogos, batia palmas ou gritava, o torcedor passa a ser - além de "um jogador a mais" - um agente proativo de informação. Ele fotografa, filma, cria seus espaços de visibilidade e compartilhamento de experiências de registros, além de escrever suas impressões sobre os acontecimentos e organiza-se em comunidades virtuais na rede mundial de computadores.

O que surpreendia até aqui era o fato de as coberturas esportivas terem como epicentro o trabalho da imprensa que está migrando da era analógica para a digital e isto assombra o mundo do ponto de vista tecnológico. Ocorre que o torcedor fanático pelo esporte como o aficcionado que viveu nos tempos clássicos do esporte grego antigo, agora também evolui e precisa entender a mídia, não do ponto de vista da produção, que é uma preocupação do profissional, mas do ponto de vista da interatividade.

Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos estão apresentando novas modalidades de comportamentos importantes, em diferentes aspectos, para o cidadão torcedor neste terceiro milênio. Nasce um novo do espectador. Ele agora apresenta um novo comportamento mais polivalente. Quer assistir, registrar, rever, analisar, multiplicar e compartilhar sua visão do acontecimento esportivo.

Olhando outros torcedores atônitos com a rivalidade que acontecia em quadra, típica do que tem acontecido nas disputas dos atletas de basquete em cadeira de rodas, muitos destes fotografavam e filmavam, como faziam os jornalistas credenciados, que estavam em posições formais para mostrar para mais quase 100 países os melhores lances do jogo.

O que está acontecendo então? Será que cada torcedor no futuro fará como o garoto Wan?

Os eventos esportivos de grande porte estão colocando agentes importantes neste acontecimento em posições muito curiosas,não necessariamente antagônicas. De um lado os profissionais de mídia - televisão, rádio, fotografia, mídia impressa e Web - de outro, os torcedores que assumem uma ação cada vez mais proativa na sua forma de torcer e interagir com o fenômeno esportivo.

De Samambaia para o mundo

Ailim Braz e Camilla Sanches,
de Pequim

Ouro no Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, e prata nos Jogos Paraolímpicos de Pequim. Os títulos são de levar a auto-estima de qualquer pessoa às alturas. Mas quem conhece Shirlene Coelho sabe que nem mesmo a conquista do recorde mundial seria capaz de tirar a humildade da atleta. Em encontro com a equipe do Projeto Beijing UCB News, a brasiliense contou um pouco de sua carreira esportiva e adiantou alguns de seus planos para o futuro.

Vítima de paralisia cerebral, Shirlene não imaginava que pudesse chegar tão longe. A atleta sempre gostou de esportes e começou a praticar futebol quando ainda era adolescente. Influenciada pelo treinador Manuel Ramos, descobriu o atletismo e, desde então, nunca mais parou.

Aos 27 anos, a brasiliense quebrou o recorde mundial no Parapan Rio 2007, quando alcançou a marca de 27,59m no lançamento de dardos. Em Pequim, fez ainda mais bonito: bateu seu próprio recorde, registrando 35,95m.

Tímida e de poucas palavras, a atleta prefere não se gabar. Shirlene mora em Samambaia com a mãe, um irmão e um sobrinho, e é a primeira da família a cursar o Ensino Superior. Ela chegou a iniciar o curso de administração. Na época, jogava futebol com algumas amigas da Universidade Católica de Brasília (UCB) e, por meio delas, conheceu o professor Paulo Mariano. Ele a convenceu a prestar vestibular para o curso de educação física e a ajudou na obtenção de uma bolsa de estudos.

Graças ao benefício, Shirlene pôde dar continuidade aos estudos. Embora conciliar a vida acadêmica à de atleta não seja uma tarefa fácil, ela afirma que o esforço tem valido a pena. “É difícil e cansativo. Treino o dia todo e, à noite, ainda faço faculdade. Quero me especializar em atletismo e, um dia, quem sabe, me tornar técnica de algum atleta”, diz.

Para Shirlene, do início de sua carreira até as ultimas conquistas no esporte, tudo aconteceu muito rápido. E embora isso, às vezes, a assuste, encontra-se satisfeita com sua atual situação. “Quero competir até quando Aquele lá de cima disser: chega! No futuro, me vejo como uma grande paraatleta e uma ótima professora”, idealiza.
*Fotos: Geyzon Lenin.

Angola investe no esporte paraolímpico

Segundo o jornalista Melo Clemente, há dez anos país tem centros desportivos focados no paradesporto

Jailson Kalludo,
de Pequim


Nestes Jogos Paraolímpicos, tudo pode acontecer. A troca de informações entre os jornalista é importantíssima para o sucesso desta celebração. Nós nos aproximamos da delegação angolana e nos alegramos muito, por ter tanta coisa em comum, principalmente o carisma, a alegria estampada no rosto, a música e a dança – aspectos com que temos uma ligação hereditária, desde a época da resistência à escravidão do negro africano e de seus afro-descendentes no Brasil.

O jornalista angolano Melo Clemente falou-nos sobre o seu povo, a inclusão dos portadores de necessidade especial angolanos e a impressão que tem dos Jogos Paraolímpicos de Beijing 2008. Melo Clemente, através de sua experiência com cobertura paraolímpica, confessa que estes Jogos Paraolímpicos superaram os de Atenas.

Um ponto que destaca é sobre a organização dos Jogos atuais, segundo ele, bem melhor que a edição anterior. Por todo lado que se anda, há pessoas ávidas para ajudar o atleta paraolímpico e os turistas que aqui estão.

O jornalista faz uma declaração muito importante, no sentido de que seu país está realizando competições sistematicamente, com ênfase no paradesporto angolano. Segundo Melo Clemente, Angola tem um grande orgulho dos seus paraatletas e que há mais de dez anos tem centros desportivos que atuam nesta vertente com muito zelo e afinco, para proporcionar que o atleta angolano tenha um bom desempenho.

Nos Jogos Paraolímpicos de Beijing, os angolanos ganharam medalhas duas medalhas de prata até o momento, com José Armando, nas provas de 100m e 200m rasos, categoria T11, e isto já é um grande feito para o desporto paraolímpico angolano, que busca a superação e sua razão de viver no esporte de inclusão e de superação, assim como fazemos nós no Brasil.

Começando bem o dia

Camilla Sanches e Luciano Franklin,
de Pequim


Depois de dois dias ensolarados, Pequim amanheceu cinzenta. Entretanto, isso não encobriu o brilho das medalhas conquistadas pelo atletismo no início deste sábado na capital chinesa (final de sexta-feira no Brasil). Lucas Prado ganhou sua segunda medalha de ouro nestas Paraolimpíadas e a Terezinha Guilhermina ficou com o bronze na disputa dos 400 metros rasos.

O ceguinho falante, como ficou conhecido na Vila Olímpica, disputa na classe T11 para cegos totais e bateu outro recorde mundial com o tempo de 22s48 na final dos 200 metros. A antiga marca de 22s70 também pertencia ao corredor e foi conquistada no mês de julho em São Paulo. O objetivo do atleta é ganhar os três ouros que veio disputar nas provas individuais. Dois deles já estão guardados. "Agora é descansar, esquecer essas medalhas e pensar nos 400 metros que é uma medalha inédita", declara.
Foto: Geyzon Lenin
Lucas compete ainda na prova de revezamento e promete se esforçar para trazer um bom resultado para o Brasil. "Não depende só de mim, são mais três atletas correndo. Mas vou dar o meu melhor. Estou bem treinado para isso, vai ser uma briga boa", garante o atleta.

Assim como o cubano Arian Iznaga, que ficou em terceiro lugar, Lucas recebeu a medalha e a entregou ao seu guia, Justino Barbosa, na cerimônia de premiação. A prata foi para o angolano José Armando.

A outra medalha da manhã foi o bronze de Terezinha Guilhermina. A atleta esperava um resultado melhor, mas se responsabilizou pelo terceiro lugar: "Eu não diria que as meninas correram mais, eu é que treinei pouco", reconheceu. Quando questionada sobre a prova, a paranaense acrescentou: "Foi um desafio interessante. Corri na raia sete e a pista é aberta demais. Fica complicado quando não se tem o desenho da curva na cabeça".

Com a prata e, agora, o bronze, a corredora vai em busca do ouro nesta segunda-feira (15) quando passa pela eliminatória dos 200 metros. A final acontece na terça, véspera de encerramento dos Jogos.

Brasil vence Grã-Bretanha no futebol para cegos

Geyzon Lenin,
de Pequim

Geyzon Lenin,
de Pequim

O time de futebol para cegos do Brasil ganhou da Grã-Bretanha por 5x0 na partida disputada hoje (13), no Campo de Hockey, próximo a Vila Olímpica. O atacante João Silva abriu a contagem do placar ao primeiro minuto do jogo. Aos 12 minutos, Mizael Oliveira ampliou o placar graças ajuda do “chamador” Roberlei Ferreira. O "chamador" fica atrás do gol adversário orientando os atletas. O jogador da Grã-Bretanha, Ajmal Maqsood, fez um gol contra beneficiando o Brasil ao final do primeiro tempo.
Na segunda etapa da partida, Ricardo Alves ampliou a vantagem do time brasileiro para 4x0, com pouco mais de 15 segundos do início. Ricardinho, como é conhecido, ainda assinalou mais um gol para sacramentar a derrota da Grã-Bretanha. Para o jogador a equipe tem colocado em prática durante as partidas o que faz nos treinos. “A vitória foi boa. Agora temos que nos preocupar com a China”, disse.
Com dois gols, ele é um dos quatro artilheiros que representam o país na competição. O jogador da Argentina Silvio Velo tem três gols e lidera a artilharia do campeonato. A Argentina ganhou de 1x0 contra a Correa, hoje.
Os ingleses ainda tentaram tirar a invencibilidade do Brasil com uma bola na trave e obrigaram o goleiro Andreonni Rego fazer uma bela defesa. A equipe brasileira está há 200 minutos sem tomar nenhum gol.

Na segunda-feira, o Brasil enfrenta os donos da casa às 13h no horário de Pequim, e às 00h no horário de Brasília. A China lidera o campeonato Paraolímpico com 14 pontos e é considerada a revelação dos jogos. O time brasileiro está em segundo lugar com 10 pontos. Para ir a final, a equipe brasileira só precisa de um empate. A Argentina, em terceiro lugar só pode chegar a 10 pontos.

Jogos Paraolímpicos juntam a fome de vender com vontade de comprar

Foto: Paulo Trindade
*Por Paulo Trindade
De Beijing

Nas ruas de Beijing, é gente por toda parte. Uns a caminho do trabalho, outros para a escola, muitos transitando pelas movimentadas ruas da cidade, além dos turistas que andam por todo lado fotografando, comprando e apreciando as curiosidades aspectos excêntricos da China.

Os Jogos Paraolímpicos de Beijing tem sido uma festa. Do início do dia (8h) até a noite 23 (h), o povo chines e turistas de toda parte do mundo, se movimentam entre o trabalho, a escola, uma fugidinha para assistir aos Jogos no complexo olímpico de Beijing, local onde se realizam as principais competições das 20 modalidades que estão sendo disputadas nesta edição.

Com o 1 “Yuan” cotado a 4 reais, quem está na China a passeio ou veio para ver os Jogos Paraolímpicos, fica entre o deslumbramento da fome de vender do comerciante Chinês e da vontade de comprar típica do visitante. São duas faces da mesma moeda. O importante é faturar! Com uma projeção de ser o país mais rico do mundo, o povo chinês está mostrando durante os Jogos Paraolímpicos, que em matéria de negócios, eles não estão pra brincadeira.
Da bicicleta que se pode alugar na rua se quiser queimar umas calorias, passando pelos richxos - transporte tradicional oriental típico - ônibus, metrô, restaurantes, lojas de conveniência, vendedores de pequeno e grande comércio, são produtos e serviços dos mais curiosos à oferta de quem coloca o pé na rua.

A ordem é vender e comprar. Na porta das lojas, por todos os cantos, ficam Jovens vendedores e vendedoras, senhoras e senhores, oferecendo seus produtos e tentando quase que a laço, consumar uma venda a preços que sobem e descem a cada pergunta que se faz. O idioma, ajuda mas não define a venda. O comerciante mais tradicional fala chinês e os mais jovens algumas palavras de inglês. Aí entra a pergunta que interessa todos: Quanto custa? Hall Mach? A velha calculadora é objeto da mediação dos valores da compra e ajuste do câmbio. De olho nos números, não tem bolsa de valores que acompanhe o ritmo de uma barganha por um produto a venda.

Com uma linguagem de sinais, troca de olhares, sorrisos e caretas, o preço vai chegando ao que agrada comprador e vendedor. “Viver isto é uma loucura”, afirma o brasileiro Leonardo (27), que é administrador de empresas em São Paulo e está fazendo turismo na china.

Nas proximidades do Centro de competições paraolímpicas, temos ambulantes que vendem de tudo e estes botam para quebrar. Oferecem um boné com o símbolo dos Jogos paraolímpicos por 50 “Yuan”, cerca de 12 reais e se você entregar uma nota de 100 “Yuan”, para receber o troco será uma luta. Eles insistem em dar o troco com novas mercadorias, e aí o comprador fica dizendo “não, não” e ele conversando em mandarim, mostrando, bonés e outras opções de produtos. Ao final, enquanto você vai andando, ele vai falando e baixando o preço, concorrendo com outros vendedores concorrentes também em leilão, numa luta quase corporal pela venda. No Brasil “Seller” num capitulo de um livro de marketing chamou este tipo de atitude de Marketing de guerra. O boné acaba saindo a 25 “yuans”, vendedor fica com os 100 reais e o comprador com 4 a 5 bonés. Uma pechincha. Assim é por todo lado, um negócio da China.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Muralha da China: o dragão que isola Pequim

Mas a China não é só muralha

Aylê-Salassiè,
de Brasília


Quem foi a China, e não subiu a muralha, “is not a real man”(não é homem). A provocação em tom de brincadeira era feita por Mao Tsé Tung. Ele a usava até com chefes de Estado estrangeiros que visitavam o país. Depois fez uma autocrítica diplomática sobre a afirmação. De fato, subir a Muralha, uma marca da China, premiada pela Organização das Nações Unidas (Unesco), com uma das 7 maravilhas do mundo, constitui-se numa verdadeira epopéia para qualquer turista, mas, como ícone, não explica a China, apenas sinaliza.

Com o fim de facilitar a compreensão dos visitantes olímpicos e paraolímpicos sobre a cultura chinesa, o governo instalou, entre a Vila Olímpica e os estádios onde se realizam os Jogos, um conjunto de 30 pavilhões, nos quais se podem ver de demonstrações de antigas práticas sociais – artesanato, danças, histórias, canções – até representações de tecnologias de ponta autóctones em desenvolvimento. “China Stories” é o nome da exposição, que recebe diariamente milhares de pessoas do mundo inteiro presentes aos Jogos.

Construída sobre o cume das montanhas que cercam Beijing, a Muralha da China, levantada a partir do século VI d.C., não é para qualquer um, nem mesmo para atleta olímpico. Vimos alguns deles suados e ofegantes, tentando chegar ao topo dos três quilômetros iniciais. Trata-se de uma subida íncreme, cheia de degraus irregulares e piso escorregadio, sem qualquer apoio para ajudar.

O acesso se dá de diversos pontos da periferia da cidade de Beijing. O mais famoso é conhecido como “Badaling”. Pode-se avançar por 30 quilômetros, no máximo, porque o restante não passou por nenhum reparo. Entretanto, três quilômetros de subida matam qualquer um. O que salva no final é a paisagem natural (landscape) belíssima, que se descortina lá de cima, mostrando um horizonte de perder de vista, serpenteado pela Muralha, alegorizada como a imagem de um dragão que avança feroz por 6.500 km pelo interior do território, isolando Pequim do deserto de Gobi e da Mongólia.

A maioria dos visitantes só fala na Muralha e na Cidade Proibida, outros somente no Wangfuging, mercado das sedas, onde os turistas – não os chineses – fazem o papel de bobo, experimentando espetinhos de escorpião, baratas do mato, cavalos-marinhos passados na chapa quente e outras iguarias exóticas. O cotidiano da vida dos chineses apresenta, contudo, algumas variáveis culturais diferentes, enriquecidas por práticas autóctones curiosas, que o governo incentiva como forma não apenas de manter os empregos informais que gera, mas sobretudo como reforço ao processo de identidade nacional.

O chá é um dessas marcas sagradas. Ao mesmo tempo em que funciona como uma demonstração de hospitalidade, uma maneira delicada de mostrar admiração pelo outro, ele é usado para criar um ambiente comercial positivo para os produtos ou serviços chineses mais sofisticados. O cafezinho brasileiro passa longe, porque o serviço de chá mantém um certo refinamento litúrgico que o desavisado não percebe. São centenas de variedades, cada uma com um significado próprio, algumas exigindo até mesmo modelos distintos de xícaras e bules.

O chá é originário de uma árvore nativa das florestas do nordeste da Índia e do sul da China, a Camelia florensis, que chega a 15 metros de altura, embora a poda se dê logo a metro e meio. Raramente tem tempo de florescer. Prima das camélias, tem uma flor linda, com pétalas brancas, perfumadas e largas. Mas, as misturas do chá são muito variadas, bem como os seus cultos e cerimoniais.

Os chineses gostam de apreciar o aroma do chá, antes de o beber, num prolongado rito quase religioso, em que eles vêem concomitantemente “a doçura da vida, a consistência do amor e a amargura da morte”. Metade da produção mundial de chá é assegurada pela China. O chá do sul da Ásia é um grande concorrente de qualquer outra bebida, seja café, sucos ou coca-cola. Tem mais: não é só de Muralha e chá que vive a China. Passou o tempo das monoculturas.

Projeto UCB Beijing 2008

Em busca de Sophia, de Brasília a Beijing

Jailson Kalludo,
de Pequim


O projeto Beijing trilhou vários caminhos, desde a organização da logística, o processo de seleção – com a desistência de alunos que não conseguiram entender a filosofia do trabalho, que tem a o propósito de fazer uma cobertura multimídia dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paraolímpicos – à lapidação de quem ficou.
O papel deste segundo grupo de estudantes do Projeto UCB Beijing, do qual eu faço parte, é de fazer a cobertura multimídia acontecer, uma empreitada nada fácil, por vários motivos que foram abordados no nosso treinamento e que na prática sempre tomam outro norte. O idioma, a adaptação ao clima e à alimentação, e o convívio em grupo são aspectos às vezes problemáticos com que se têm que lidar com muita habilidade, compreensão e sabedoria neste momento.
Com o advento dos Jogos Paraolímpicos, a população de Beijing está se adaptando a uma nova realidade, que é a da superação do portador de necessidade especial. Os hotéis, o comércio e o governo estão fazendo o máximo para acolher estes atletas e cidadãos em seu país.
O povo chinês valoriza a sua cultura, tem um grande respeito pelos mais velhos. O professor aqui na China é a terceira autoridade dentro do conceito de respeito e posição social. Eu sinto até inveja desse tipo de conduta, porque no meu país - onde alguns filhos espacam, maltratam e matam até os próprios pais - os professores não tem esse tratamento.

Em Beijing encontramos um povo receptivo, e, ao mesmo tempo, comprometido com o trabalho e com o desenvolvimento econômico. É claro o visível contraste social, mas não sou eu, brasileiro, que vai jogar a primeira pedra. O meu país tem problemas similares e não consegue resolvê-los – e, por isso, como os velhos sábios urbanos dizem: cada macaco no seu galho.

Como Pitágoras ensinava, Sophia significa sabedoria. É isso que a nação chinesa, com sua hospitalidade e o seu carisma, quer mostrar a qualquer turista. Pessoas de semblante sério, mas prestativas, na China de Sophia as pessoas acessam internet, escutam Michael Jackson e dançam Billy Jean,sem se preocupar com a barreira do idioma ou ideologia política, o que importa é dar um sentido à vida humana, respeitar o direito de ir e vir. As cores de nossa bandeira não importam nesse contexto de celebração, agregação, superação.

Os Jogos Paraolímpicos deixam uma mensagem filosófica. Não são meras palavras publicadas em livros, mas uma prova vivencial dos fatos, que em 11 dias de competição mostram para os cinco continentes que seu filho portador de necessidade especial não quer e nem precisa de esmola e sim de oportunidade para ser uma pessoa independente e produtiva.

Em tempos passados, o povo antigo se confraternizava e se encontrava para manifestar a sua Sophia. Um dia deixei minha terra, e enfrentei o dragão do imperador só para beijar Sophia na ponta de uma esquina de uma viela sem ponta, sem importar se Sophia são imagens produzidas por sombras de dentro de minha caverna imaginária, ou se era a menina que me serviu o banquete chinês e limpou o suor do meu rosto com as palmas de sua mãos. E depois me chamou de professor, como fosse minha discípula ocidental.