terça-feira, setembro 16, 2008

“Se nós fracassarmos, eles fracassarão”

Jailson Kalludo,
de Pequim


O portador de necessidade especial nasce com a sina dos adjetivos. Já começa no seio de sua família. Quando os seus pais o aguardam por nove meses, as expectativas são as melhores possíveis. Mas quando o médico pede para ver uma radiografia, percebe algo que não é comum na gestação de uma mãe supostamente saudável.

O médico pergunta se houve contato com alguém que teve rubéola; ou se na família há alguém com alguma deficiência congênita por hereditariedade.

“– Não, senhor”. Com um tom firme na voz, os pais perguntam em conjunto: “– Por quê, doutor?”

“– Não tenho certeza. Temos que averiguar, fazer outros exames para uma análise mais complexa do seu quadro clínico, para termos um resultado mais fidedigno. Só assim eu poderei dar um laudo conclusivo do seu prognóstico.”

Passam-se algumas semanas e nada de resultado. Coisa de hospital público e meio complicado; principalmente no ano de 1968, quando o regime militar ainda estava em alta.

O tempo não espera, nasce a criança. O laudo dos exames ainda não tinha saído, agora não importa.

Vem a surpresa. Nasceu Pedro, nasceu Maria, nasceu João. Todos, portadores de necessidade especial. É aí que a porca torce o rabo.

Os pais ficam entristecidos com a situação, mas não desanimam.

Nem sempre foi assim. Em tempos passados, o pai poderia findar com a vida desse ser. A história não a de mentir sobre determinadas civilizações que não permitiam que a progenitora desse a luz a um filho com uma deficiência física.

Na Grécia de Pitágoras, Parmênides, Demócrito e Heráclito – a qual se denominou de o berço da cultura helênica –, essa prática foi perpetuada por muito tempo, chegando até as culturas indígenas da América do Sul.

Desabafando com a esposa, o pai fala: “– Temos que dar um jeito para estas crianças terem um futuro melhor, e isto só pode acontecer se nós colocarmos essas crianças numa escola”.

A mulher retruca: “– Homem de Deus, que escola vai acolher estas crianças com deficiência física?”

Sabiamente, ele responde: “– Não fazendo nenhuma uma discriminação a ninguém. Graças ao nosso bom Deus, nossas crianças não têm nenhum problema neurológico; pelo contrário, elas são muito ativas nem parece que têm alguma deficiência física. Não podemos desistir. Se nós fracassamos, também eles fracassarão”.

É de famílias como estas que surgem as Guilherminas, os Ariosvaldos, as Shirlenes, as Verônicas, os Lucas.

Esses paraatletas merecem todo o nosso respeito e a nossa estima, por que cada um deles tem uma razão de viver e é símbolo máximo de superação.

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