domingo, setembro 07, 2008

Razão de viver

Vamos dar um basta, soltar nossa voz como se fôssemos o saudoso Pavarotti. É preciso sacudir esta sociedade paralisada de preconceitos

Jailson Kalludo,
De Pequim


Com o final dos Jogos Olímpicos a cidade de Beijing se preparou para outra grande celebração. Os Jogos Paraolímpicos reúnem vários atletas portadores de necessidades especiais que irão participar de igual para igual conforme o seu grau de dificuldades.

O ponto marcante dessa celebração é ver o atleta se superando. Sabemos que não é fácil a vida de um portador de necessidades especiais, principalmente nos países de terceiro mundo. A discriminação está estampada no rosto dos quilos de pessoas que não têm o mínimo de sensibilidade e respeito pela dignidade humana.

No Brasil as coisas não são fáceis para o portador de deficiência. Para começar, o preconceito já se inicia na família. Colocam-se apelidos ofensivos; cria-se dentro da própria casa um ar de rejeição. Muitas vezes, castra-se a liberdade do cidadão portador de necessidades especiais.

Conhecem-se vários relatos sobre violência cometida por parentes e sobre indivíduos que agrediram portadores de deficiência física no seu pleno gozo de liberdade. Há também aqueles parentes que administram a pensão do portador de necessidade especial, mas não lhe repassam o dinheiro para ele mesmo resolver as suas necessidades.

Não se trata agora de falar só de sofrimento, mas de superações que ao longo do tempo o portador de necessidades especial vem conquistado através do esporte. A história registra conta como surgiu o esporte paraolímpico no mundo e as vantagens que esta modalidade de entretenimento aportou aos deficientes físicos, tanto no âmbito de socialização como no cultural, no político, e, o principal, no econômico.

Nas sociedades primitivas, como na Grécia antiga, as mulheres tinham o costume de findar a vida de seus filhos recém-nascidos que tivessem alguma deficiência física. Esse gesto trilhou outros continentes, como o americano, através de comunidades indígenas. A filosofia do esporte paraolímpico é agregar possibilidades de mudanças através do esporte, e muitas pessoas, por essa forma, mudaram seu modo de vida e de pensar sobre o mundo e si mesmo.

As dificuldades vêm para dar um impulso na vida de qualquer ser humano, independente de sua posição social, cor, credo, ideologia ou partido político. Mostram que inovar é o melhor a se fazer. Homens superam as suas dificuldades fazendo esporte “com a alma” e dando sentido à vida, porque nisto reside a razão de viver de qualquer pessoa que tem necessidade especial e que quer superar os obstáculos que a vida oferece.

Como diz a canção de Ivan Lins, “desesperar, jamais”. Lutar por um ideal, sempre. Não existem barreiras para aquele que espera com cautela chinesa mas também não se pode perder o trem da história por querer, senão resta fazer parte dos coitadinhos que esperam uma esmola na Praça do Relógio de Taguatinga, na frente de algum banco estatal ou repartição pública. E, com sorte, alguma instituição nos recolherá como a um sapato velho.

Não se pode permitir esse tipo de fim, é preciso “ir à luta”, companheiros. Vamos a rua proclamar a nossa independência, através dos nossos instrumentos, muletas, cadeiras de rodas, nossas próteses. Vamos dar um basta, soltar nossa voz como se fôssemos o saudoso Pavarotti.

É preciso sacudir esta sociedade paralisada de preconceitos, e rasgar o manto da indiferença. E só seremos respeitados no dia que conhecermos nosso direito e fazê-lo valer.

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