quarta-feira, setembro 17, 2008

Esporte, sociedade e racismo

A história não pode deixar o tempo apagar a vitória de Jesse Owens, em 1936. E nem nós devemos, agora, “tapar o sol com a peneira”

Jailson Kalludo,
de Pequim


O tom da questão é até um pouco metafísico, diante a situação que o homem, a mulher e seus descendentes negros passam na tal sociedade moderna “pós-contemporânea”, porque quando um cidadão negro que paga os seus impostos está no volante de um carro importado, as pessoas de pele branca, morena, mulata e até alguns negros torcem o nariz, e começam a “filosofar” sobre o episódio:

“– Sei, não... aquele cara tem pinta de traficante”; “– Talvez seja um chofer tirando onda com o carro do patrão”; ou “deve ser um policial no carro chapa-fria, numa investigação”.

Os meios de comunicação são os maiores responsáveis por essa segregação racial que perdura no nosso país. Seus produtos, como novelas e programas humorístico, colocam o ser negro em seu “devido” lugar.

Quem não se lembra do Sítio do Pica-pau Amarelo, programa infantil que encantou uma geração de pessoas, mas que tinha um cunho racista? Aquela senhora negra representava a condição do negro depois da Lei Áurea, quando quem não tinha para onde ir continuava na casa do antigo senhor de engenho, a quem tinha de chamar de “padim” e, à sua esposa, de “sinhá”.

Não interessa se a novela é das 18h00 ou do horário nobre. O papel do ator negro nas telenovelas já estava estabelecido, no roteiro do diretor – e não se precisa salientar quais eram os papéis oferecidos – e impregnado na cabeça de cada telespectador.
Até quando iremos tampar o sol com a peneira, ou esperarmos a justiça de Deus, a fingirmos para nós mesmos que não somos racistas?

O racismo de que eu falo não é só aquele explícito, do branco com o negro nem do negro com o branco, mas também aquele do racismo regional de estado para estado, visível quando alguém comenta que fulano é preguiçoso ou que o sotaque daquela moça é inadequado, tem que mudar para os padrões convencionais sulistas para trabalhar nesta emissora.

As características diferencias sempre existiram, temos apenas que respeitar.

No caso do esporte temos um exemplo que tornou se um marco na história dos Jogos Olímpicos de 1936, realizados em Berlim. O führer Adolf Hitler gastou muito dinheiro, construiu estádios com capacidade para milhares de pessoas. Trinta milhões de dólares foram gastos para erguer a Vila que acolheria os atletas de todos os continentes. Tamanho era o ufanismo de Hitler que ele convocou uma cineasta alemã de renome alemã, Leni Riefensthal, para a direção do filme oficial de competição, que deveria ser um louvor aos ideais nazista.

No entanto, nem tudo deu certo, o tiro sai pela culatra. Um atleta negro norte-americano chamado Jesse Owens venceu com folga a prova de 100m raso em 03 de agosto de 1936. Para desgosto do führer, Owens ganhou quatro medalhas de ouro nos jogos olímpicos de Berlim, nos 100m, 200m, no revezamento 4x100 e no salto em distância. Esse é um fato que a história não pode deixar o tempo apagar.

No Brasil, o racismo é tão antigo quanto a exploração do pau-brasil. Entretanto a desagregação que acontece com o afro-descendente é gritante e se espalha por todo o segmento da sociedade civil.

Muitas perguntas não se calam na sociedade negra: quantos bispos negros existem nas congregações religiosa das igrejas católicas e protestantes? Quantos magistrados negros estão à frente de um Ministério da Justiça, de um STJ, de um STF?

E quanto são os técnicos de futebol negros que atuam na primeira divisão? Quantos tenistas negros participam do Grand Slam? Será que um dia o Comitê Olímpico Brasileiro vai produzir suas estatísticas?

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