segunda-feira, setembro 15, 2008

Sepultando a discriminação ao deficiente na China

Fim das Paraolimpíadas é aguardado, com esperança de mudanças, por 60 milhões de chineses

Aylê-Salassié,
de Brasília


“Nunca tantos deveram tanto a tão poucos” na China. Sessenta milhões de chineses portadores de deficiência aguardam eufóricos pela vitória final do seu país nas XIII Paraolimpíadas 2008, de Pequim, porque os resultados dos Jogos vão obrigar o bilhão de chineses a finalmente reconhecê-los como cidadãos, com direito a emprego e até a freqüentar a Universidade.
As vitórias da China nessas Paraolimpíadas consagram a luta de Deng Pufeng, um deficiente, filho do ex-presidente Deng Xiaoping, que durante a revolução cultural, teria sido atirado, pelos colegas, do quarto andar de um dormitório de estudantes na Universidade de Pequim, o que resultou na fratura de uma vértebra, transformando-o definitivamente num paralítico.

De lá para cá, nem ele, nem seu pai, descansaram mais na tentativa de extirpar da China a discriminação contra deficientes, promovendo a criação de hospitais e centros de reabilitação que possibilitassem o tratamento dessas pessoas. Deng Pufeng chegou a presidente da Federação dos Deficientes da China, e é hoje também o diretor-executivo do Comitê de Organização dos Jogos Paraolímpicos de Pequim. Sua maior responsabilidade é, entretanto, demonstrar para os chineses espalhados pelo país a importância do reconhecimento dos seus deficientes físicos ou mentais.

Na China existem 60 milhões de pessoas com deficiência física, menos de 5 mil têm acesso à universidade, e muito menos ao trabalho. A história dos portadores de deficiência no país sempre foi dramática. Segundo a jornalista Sônia Bridi, que trabalhou dois anos como correspondente na China, é comum, no interior, os pais abandonarem filhos deficientes em orfanatos, “à beira da estrada para morrerem”, e até encontrar “doentes mentais trancados em jaulas amarrados ou escondidos pelas famílias” . Os portadores de deficiência ainda são discriminados a China. Até pouco tempo, ser deficiente no país era considerado vergonhoso.

A legislação contra a discriminação na China de hoje é mais completa, mas a fiscalização mostra-se tolerante com as empresas e universidades. Alguns rejeitam o seu cumprimento e outros o fazem disfarçados ou contemporizadamente. Segundo declaração do diretor do Educação e Emprego do Departamento de Pessoas com Deficiência, da província de Hunan, Zhou Chengsheng, “as escolas enfatizam, como proposta, o desenvolvimento moral, intelectual e físico, e suas direções sabem que algumas pessoas não são fìsicamente perfeitas”, e as descartam sem grandes explicações, nem conseqüências.

As universidades têm metas de empregabilidade de seus profissionais, e os deficientes contribuem para a queda desse índice, segundo Chengsheng, ao não conseguirem emprego com facilidade. Liu Wenxiu, uma candidata portadora de deficiência ao curso de Medicina à Universidade de Hunan, concluiu que ela estava sendo descartada não pela escola, mas pela própria sociedade, que convive coniventemente com essa situação. O governo propõe-se a mudar inteiramente a situação nos próximos 5 anos. A vitória da China nos Jogos Paraolímpicos vai ajudar muito a reverter esse quadro.

Projeto UCB Beijing 2008

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